segunda-feira, 7 de junho de 2010

teste

Mais uma página em branco, prontinha para ser preenchida. Penso até ter iniciado outra bobagem escrita da mesma forma. Entretanto, nem tudo que começa igual tem desenvolvimento e decadência semelhantes.

Não gosto de primeira pessoa. E os deuses são cruéis.

Raios, trovões, tempestades. Deuses semelhantes aos homens na alvorada. Homens produtos de deuses ao anoitecer. A crueldade. Se alguém nos criou, quais as responsabilidades dele ou deles para conosco? É melhor que não saibamos. Quem diria a sua criatura que é o seu criador? Quem pode salvar daquilo que ninguém sabe o que exatamente é, porque não é preciso saber o que realmente seja. Besteira. Apenas é.

Inteligência Artificial, o filme. A associação, no fundo, é lá com o Gepeto. Sim. Gepeto e Dr. Frankenstein. Obviamente que essa comparação não é nada original. Ainda assim, vamos lá.

Ambos criam um ser a sua imagem e semelhança. Mas a relação criador/criatura tem dois aspectos contrários. Gepeto afeiçoa-se com o boneco de madeira animado pela fada azul. Pinóquio acredita que a fada azul pode transformá-lo em ser humano (talvez assim, ser igual ao criador). Não obstante, o safado mente em demasia. E quando mente o seu nariz cresce, quanto mais mente, mais cresce o nariz. Poderia ser fálico não fosse otorrino. Enfim, a relação Gepeto/Pinóquio é uma relação harmônica - ainda que muitas opiniões possam ser contrárias. Já o Dr. Frankenstein, bom, isso merece outro parágrafo.

Frankenstein é a criatura do homônimo cientista. A sua pergunta é: se não estavas preparado para dar-me a vida, porque me criaste? Essa é a questão que se faz o monstro. E o carpinteiro e o cientista caem na mesma cilada. Em outras palavras: a técnica e a ciência tropeçam na própria astúcia (mas não são quaisquer produtos capazes de tais encantamentos, em absoluto). Quiçá seja o mesmo desejo onírico de ambas, ciência e técnica, isto é, a perfeição. É o que aspiram. E, assim hipnotizadas diante da própria criação, a ciência com suas réguas em punho e a arte de cinzel na mão, gritam:

- Fala!

E se falassem, é muito provável que perguntariam a razão de sua existência. E poderiam dar-se as mãos. Poderiam se beijar. Frankenstein sai à procura do cientista por que quer acreditar. Pinóquio fica em companhia ao carpinteiro porque acredita. A arte conquista pela aproximação. A ciência obriga à busca incessante. E o vício é só mais um artifício.

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